quarta-feira, 9 de abril de 2008

A confusão na Universidade de Brasília




Às vezes eu fico me perguntando onde estão os universitários desse país. No caso do Renan Calheiros, por exemplo, achei estranho nenhuma manifestação de grande amplitude ter sido feita. Achava um absurdo o comodismo brasileiro com tanta corrupção. Porque naqueles dias eu acreditava piamente que a revolução deveria ser feita pelas mãos do povo. Eu tinha uma visão romantizada de qualquer tipo de conflito contra sistemas, principalmente autoritários e imaginava que poderíamos muito bem viver uma utopia. Mas antes mesmo de ler Morus, comecei a mudar levemente de opinião.
Essas semanas têm sido engraçadas e aproveitadoramente enriquecedoras no que se diz respeito a pequenas experiências políticas. Logo eu, que sempre admirei o trabalho dos jornalistas e quis estar no meio de alguma grande notícia. Essas semanas, eu tive a minha oportunidade.
Desde o começo do ano, o reitor Timothy Muholland está sendo acusado de desvio de verbas que seriam destinadas às pesquisas ou cursos de extensão para usar na decoração de seu apartamento funcional.
À principio eu achei estranho não haver participação direta dos estudantes em algum tipo de reivindicação, mesmo porque a própria mídia não estava dando grandes coberturas ao caso. Será que é tanta corrupção que ficamos acostumados?
O fato começou a ter destaque nos jornais quando estudantes invadiram a reitoria. Decidi então fazer então minha própria “matéria”. É difícil ser parcial nesse caso, mas pontuarei o melhor possível esse texto para que cada um possa formar sua opinião sobre o que está acontecendo nessa Universidade.
























O INÍCIO

Desde a abertura do semestre que a Assembléia dos Estudantes organizava passeatas e reuniões sobre a “questão Timothy” na Universidade de Brasília. Entretanto poucos alunos se interessavam ou compareciam às essas reuniões.
Na Quinta-Feira(3), após uma pequena reunião da Assembléia, estudantes se dirigiram à reitoria e numa ação espontânea, decidiram ficar lá, ocupando o segundo andar do local. Alguns já se retiraram, outros continuam. Duas vezes desligaram a luz e a água. O judiciário aprovou a intervenção da PF para retomar a posse do prédio. Havia vários seguranças, que por força dos estudantes se retiraram na Segunda(7). Devido à ocupação, diversos outros estudantes aderiram à causa e o movimento tomou uma proporção maior na mídia brasileira.





Os argumentos CONTRA a invasão:

_ A ocupação atrasa certos trabalhos da Reitoria, tal como pagamento de bolsas.
_ O movimento ganhou uma proporção caótica ao reunir diversas pessoas que não estão lá com seriedade, mas pela baderna.
_ A resistência à princípio chamada de “pacífica” deixou de merecer esse termo há muito, desde que um estudante agrediu um segurança e foi praticamente espancado por uns cinco.
_ Há violência, e não me refiro apenas à física.






Os argumentos À FAVOR da ocupação:

_ O “caso Timothy” ganhou mais destaque na mídia.
_ Mais estudantes se conscientizaram politicamente e foram para as assembléias.
_ Algumas concessões pertencentes à pauta do movimento foram aceitas.
_ Em todo caso, o movimento é uma resistência à corrupção desse país.
_ o Ministério Público fez uma denúncia do reitor devido às pressões do DCE.




A MÍDIA:

A televisão principalmente está deturpando o movimento estudantil. Entre as piores afirmações, está a acusação de envolvimento partidário. Um jornal chegou mesmo a afirmar que “a esquerda está inflamando os corações jovem a se revoltarem contra o sistema”. Ridículo(perdoem-me a parcialidade). Parece até a Revista VEJA. A mídia também faz questão de mostrar como o movimento foi desorganizado e toda hora expõe o problema de pagamento dos funcionários.


AS TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO:

Enquanto a mídia fala que os estudantes estão sendo influenciados por partidos políticos, os estudantes reclamam de supostos jornalistas e integrantes da polícia que fingem ser estudantes para votar na assembléia contra a ocupação. Por isso, para votar o estudante precisa fazer um credenciamento mostrando sua carteirinha.



OS FATOS:

De fato, tem muita gente, inclusive partidos políticos e sindicados, querendo se promover à custa do movimento estudantil. Porém, o diretório não tem nenhuma ligação com esses partidos e nem todos os jovens “inflamados” são de esquerda. O movimento é apenas uma reivindicação estudantil contra a falta de senso do atual reitor.
Não é novidade que a universidade carece de diversos equipamentos. O curso de Desenho Industrial por exemplo, está tentando construir um prédio próprio desde 1996 e até agora não foi liberada verba. Os Centros acadêmicos de Artes Cênicas e Visuais não possuem espaço físico e os computadores utilizados pelos estudantes de Ciência da Computação são arcaicos. Enquanto isso, o reitor gastou 470 mil reais com reformas em seu apartamento funcional. É importante salientar a palavra funcional, já que indica que ele além de não pagar pelo apartamento, ainda gastou dinheiro institucional com reformas. E o fato de que o apartamento será passado para o próximo reitor não ameniza a falta de bom senso do atual, apenas nos faz crer que realmente esse ato além de imoral, foi babaca.

Realmente, o movimento tomou proporções inesperadas e até violentas. A liderança faz questão de incentivar um movimento democrático, mas as pessoas que se pronunciam contra a ocupação, inclusive o Centro Acadêmico do curso de Direito que considera ilegítima essa ocupação, são vaiados. Que democracia é essa em que a opinião da minoria não é ao menos respeitada?
Diversos funcionários se pronunciaram afirmando que a invasão NÃO afeta o pagamento porque esse é feito através de depósitos bancários. Ao sair da reitoria, um dos funcionários pronunciou em voz alta: “Sou funcionário público e não funcionário do Timothy”.





A ASSEMBLÉIA DE QUARTA(9):

Eram 12 horas. A imprensa começava a chegar. A assembléia se reunia atrás da reitoria. Diversos grupos apóiam o movimento. A assembléia conta com participantes do Pará e Rio Grande do Sul, entre outros estados brasileiros, cujas universidades apóiam o movimento. Após uma hora de informes e propagandas, os participantes começam a se pronunciar. A “platéia” pede para que se encerre o falatório e entre a discussão. A mesa atende o pedido. A verdade é que a maioria fala a mesma coisa no microfone, o que acaba deixando frustrados e cansados os que estão ouvindo. Maioria esmagadora vota a favor da manutenção da ocupação. Fala-se em greve e em paralisação geral, assuntos que serão principais em futuras assembléias. Outras questões como a do REUNI* são apresentadas. A maioria dos alunos são contra esse *programa de abertura de vagas pois acreditam que falta preparação de estrutura para receber os estudantes.
Os funcionários se pronunciaram(como foi mencionado antes) hoje na assembléia. Entre os discursos, um deles falou: “Para nós é muito importante esse movimento a fim de avaliar a redemocratização e a gestão da UnB”. “...um funcionário tem que trabalhar 5 vezes mais para ganhar o mesmo custo da lixeira do Timothy”.

Mas quem teve mesmo destaque na assembléia foi a leitura de uma carta que a comunidade negra mandou ao reitor. Timothy disse em entrevista coletiva que se sentia perseguido por pessoas contra as reformas de inclusão social que ELE aplicara na universidade. Os estudantes negros alegam que o reitor não foi o criador das cotas e que ele não possui o menor direito de se nomear “criador da inclusão social” da universidade. Após a leitura da carta, os estudantes cantaram uma música em homenagem a muitos ilustres negros da história, incluindo Martin Luther King.






A OPINIÃO DOS ESTUDANTES:

Conversei com duas alunas da Comunicação Social da Universidade. As duas se mostraram a favor da ocupação e contra a greve.
A primeira disse que “os estudantes deveriam lutar, pois a verba deve ser destinada à pesquisa e melhorar a estrutura da universidade e não mobiliar apartamentos.” A segunda afirma que “os estudantes são os mais interessados pela saída do reitor e devem fazer por si mesmos sem esperar atitudes de outrem”. Leia-se “outrem” por “judiciário”, que aliás ainda está fazendo as investigações sobre o caso.


E finalmente,

MINHA OPINIÃO SOBRE O ASSUNTO.
Eu gostaria muito que o reitor saísse, mas sou contra a ocupação. Percebe-se que a maioria das pessoas que estão no movimento participa mais pela bagunça do que do principal objetivo de reivindicar condições melhores para as universidades federais. Além do mais, essa resistência já deixou de ser pacífica e corre o risco da Polícia intervir, gerando mais violência e conflitos.
Eu ainda acredito que é importante lutar pelos nossos direitos como cidadãos, porque aliás o dinheiro da FINATEC não é somente o nosso mas também dos pais dos estudantes das particulares. Acho realmente um absurdo o reitor, que se diz tão respeitável, gastar um dinheiro que serviria para financiar pesquisas e assim aumentar o nível técnico do país com um apartamento. Gastar mil reais com uma mísera lixeira enquanto tem centenas de milhares passando fome no país já é decadente. Ainda mais se tratando de um intelectual responsável por gerenciar uma das maiores e melhores universidades do país. Entretanto, ocupar a reitoria não vai fazer efeito, o movimento só está perdendo a “moral” com esse tipo de atitude. As pessoas vaiam os que são contra e isso é prova suficiente de uma hipocrisia existencial, já que além de dizer que é pacífico, o movimento se diz democrático. Além disso, as investigações ainda estão sendo feitas e a ocupação parece equivocada. Muita gente está usando o movimento para se promover e a reivindicação está infelizmente perdendo suas origens. Não ache que cabe ao DCE discutir agora a questão do REUNI, por exemplo. Peço que a liderança tome consciência da proporção que essa ocupação está adquirindo, para como o próprio Fidel disse uma vez, e fez uma previsão digamos assim, “a revolução não devore seus filhos”.

Eu ainda acredito na UNB.



HÁ OUTRAS ALTERNATIVAS DE PROTESTAR....



Falando em resistência PACÍFICA, o Centro Acadêmico de Artes Visuais(CaVIS) teve uma idéia gênial. Eles estão pedindo aos estudantes que doem lixeiras, que serão colocadas na reitoria Sábado como formar de protestar contra os gastos do reitor.
Dessa maneira ninguém se machuca e a reivindicação ainda ganha um aspecto criativo.

Um comentário:

Lutene Mascheteno disse...

Há outras maneiras de protestos e outras formas de atingir a renuncia do reitor, sem instigar o caos na universidade, a opinião publica que deve ser a grande aliada dessa questão por se tratar de uma universidade pública está se voltando contra a causa de pouco em pouco.